A pânico e a angústia tomam um café
Fui incentivada a chamar a minha síndrome do pânico de síndrome de angústia. um nome mais melancólico e menos agressivo pra o que é conviver com um desespero entalado na garganta.
mas pânico e angústia não são sinônimos,
o pânico é o filho pródigo da angústia
e eu sou filha dos dois.
o pânico é o que vem quando a angústia, uma velha com alzheimer, ouve uma música qualquer que a lembra como era amar.
o pânico são as emoções que chegam como num tornado e inundam de uma só vez uma mente já confusa demais
cansada demais.
pânico é fenômeno da natureza, que arranca o teto da minha pele e me deixa gritando de frio.
angústia é nome de gente, angústia é uma mulher melancólica
angústia é um gosto, o gosto que fica quando a mente se esquece de novo
angústia é o sabor do pânico
A angústia é desbotada, o pânico é tão vivo que cega
o pânico me tortura por cinco ou dez minutos e vai embora,
só pra me lembrar que eu sou feita de pele, que não caibo em mim e que vou sempre, sempre, rasgar.
Já a angústia mora comigo, me espera todos os dias pra o café da manhã
me observa enquanto as horas passam, coexiste
pinga seu sabor em tudo, como um adoçante que estraga o café.
O pânico é o que surge quando a angústia sangra sua última gota e tudo o que era oco se preenche de frio.
A angústia me acompanha, lado a lado, na velocidade do meu passo
o pânico é urgente, quer ser só um comigo, o pânico quer ser eu.
a angústia é quem segura minha mão pra atravessar a rua,
me avisa pra olhar pra os dois lados
porque qualquer hora o pânico me atravessa sem avisar.